"Lava jato" quis enquadrar Ciro Gomes e Rodrigo Maia, mostram mensagens


O legado nefasto do consórcio instalado em Curitiba e que se materializou na autodenominada operação "lava jato" continua produzindo revelações surpreendentes, mesmo depois de ter suas atividades encerradas.

Ciro: na mira dos lavajatistas.

José Cruz/Agência Brasil


Conversas inéditas entre os procuradores capitaneados por Deltan Dallagnol, e publicadas nesta terça-feira (25/1) pelo site da revista Carta Capital, mostram que Ciro Gomes, seu irmão e senador Cid Gomes (PDT-CE), o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia e o diretor de Redação da ConJur, Márcio Chaer, foram marcados como potenciais alvos da perseguição levada a efeito durante anos pela equipe lavajatista.


De acordo com a notícia, assinada pelo jornalista e advogado Glenn Greenwald e por Victor Pougy,  os abusos sistemáticos para punir críticos e adversários políticos não se restringiam a Lula e ao PT. Este novo material, parte do arquivo entregue a Glenn Greenwald, oferece novos insights sobre o modus operandi da autoproclamada força-tarefa e joga luz sobre a motivação por trás de uma recente operação que teve como alvo dois detratores de longa data da "lava jato": Ciro Gomes e seu irmão.


Ataques a Ciro Gomes

"Os chats mostram procuradores planejando formas de explorar seus extensivos poderes investigativos para obter e vazar para a imprensa informações que constrangessem seus críticos. Além dos Gomes, foram mencionados nas conversas Rodrigo Maia, então presidente da Câmara, cujo “crime” foi se opor a partes do pacote anti-crime e da agenda do então ministro Sérgio Moro — e Marcio Chaer, editor e dono do site de notícias jurídicas ConJur, cujo 'crime' foram suas reiteradas críticas à operação", afirma a notícia da Carta Capital.


Ouvido pela publicação, o criminalista Augusto de Arruda Botelho foi taxativo. Segundo ele, as conversas demonstram que o ânimo pessoal de alguns procuradores em relação a determinadas pessoas, em determinados casos, não era simplesmente sobre o necessário e importante combate à corrupção. "Sempre houve, e hoje nós temos a comprovação disso, um interesse pessoal e político por trás de muitas das acusações", disse.


Os procuradores da "lava jato" há muito tempo consideram Ciro e Cid seus inimigos políticos. Ciro, em particular, fez reiteradas críticas tanto à operação quanto ao ex-ministro Sérgio Moro. Nos trechos dos chats em questão, membros da força-tarefa, citando essas críticas, explicitamente perguntaram se havia algo que pudesse ser usado contra Ciro no material coletado pelas investigações.


No dia 13 de fevereiro de 2019, no grupo chamado "Filhos do Januário 4", a procuradora Laura Tessler, sem nenhum motivo aparente, enviou uma mensagem perguntando se havia algo contra Ciro, e acrescentou que estaria "louquinha pra fazer uma visita pra ele".


Não havia nenhum propósito investigativo em jogo. Tratava-se apenas mais um exemplo de procuradores da "lava jato" tratando suas investigações como armas para serem usadas contra qualquer pessoa de quem desgostassem ou que ousassem criticar seu trabalho. A operação contra os irmãos Gomes acabou sendo materializada há cerca de um mês, envolvendo fatos de 2017.


Rodrigo Maria vira alvo

Outro exemplo desse tipo de mentalidade vingativa contra alguém considerado um oponente político veio um mês após a conspiração contra Ciro. O alvo era o então presidente da Câmara e desafeto de Moro, Rodrigo Maia.

Em resposta a uma notícia da Folha de S.Paulo postada por Deltan Dallagnol, o grupo se lamentou por Moro não agir com a veemência necessária contra Maia. O conchavo envolveu diversos procuradores da força-tarefa previamente implicados em reportagens da Vaza Jato.


A queixa era de que Maia não tinha dado a devida importância ao denominado "pacote anticrime" patrocinado pelo ex-ministro Sérgio Moro, atual candidato à Presidência pelo Podemos.


ConJur na mira

As mensagens mostram que a força-tarefa da "lava jato" realmente não conseguia esquecer a ConJur. Em 14 de fevereiro de 2019 — o dia seguinte à discussão sobre Ciro —, os procuradores falaram do jornalista Márcio Chaer, editor desta revista eletrônica.


Diz a notícia: "Um dos procuradores, sem qualquer motivo investigativo legítimo, perguntou se alguém teria alguma informação sobre Chaer. Imediatamente, Paulo Galvão respondeu: 'Pilantra'. O promotor comentou que material potencialmente incriminador contra Chaer foi encontrado em uma investigação e já vazado, mas lamentou a pouca repercussão do assunto — que, portanto, não teve o efeito desejado contra a reputação do jornalista. "Acho até que vale a pena divulgar novamente, no momento certo', sugeriu".


O texto de Greenwald e Pougy ressalta que "a força-tarefa vazou repetidamente informações para veículos aliados com o objetivo explícito de prejudicar aqueles que percebiam como inimigos — ainda que isso fosse flagrantemente ilegal. A ofensiva contra Chaer, porém, é o primeiro exemplo desse tipo de prática abusiva ser direcionada a jornalistas".


Em resposta, Marcio Chaer afirmou achar natural que, expostos, os procuradores reajam. "Acho até espantoso que eles não tenham sido mais ofensivos, dado o grau de irresponsabilidade e amadorismo com que eles sempre acusaram seus alvos." E completou: "Não tenho problema em debater sobre minha vida profissional, empresarial ou pessoal. O que está em questão é a desonestidade de policiais, procuradores e juízes que adotaram a mentira como ferramenta de trabalho. O centro de tudo são as práticas jurídicas corruptas que esses agentes cometeram."


Matéria original: Revista Consultor Jurídico, 25 de janeiro de 2022.


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