Tutoia poderá se tornar a cidade do futuro, se se souber aproveitar os ventos que estão soprando!


Créditos da foto: Prefeitura de Tutoia


Conversava, estes diinhas, como dir-me-ia minha vó, com um descendente dos Tremembé e outro dos Neves, duas referências na formação de nossa gente e de construção de nosso município, sobre o que se viu e ouviu do chefe do executivo estadual, na tradicional festa dos pescadores de Tutoia: a Regata de Canoas, criada pela Colônia de Pescadores e pelos mais bravos pescadores da Barra dos Félix (atual bairro São José) - registre-se está mudando a feição da praia dos pescadores - antes com barracas e rancharias - dando lugar aos mais modernos resorts de gente de outros países (e também daqui e do Sul do nosso país) chegando e transformando a barraca do pescador no moderno empreendimento e, naturalmente, empurrando os nativos para os novos núcleos de povoação (residencial Expedito Baquil, Nova Terra e outros).

Pois, bem. O governador do estado, Carlos Brandão, no momento em que pisou em Tutoia, no campo da Iracy, proferiu a seguinte frase: “que me perdoe Barreirinhas, mas eu estou apaixonado por Tutoia”, ele havia acabado de sobrevoar a nossa orla e avistado o que os investidores de fora enxergaram, ao invés de nós, o povo da terra, enxergou a beleza de nosso mar, o colorido das canoas, a nossa gente hospitaleira, enxergou perspectiva de progresso. O mesmo que enxergou o padre Hélio Maranhão, quando aqui botou os pés em 1964; o mesmo que enxergou o coronel Paulino Neves, quando avistou o porto da Salina em 1892; o mesmo que enxergou o presidente Afonso Pena, em 1906, quando parou por poucas horas no nosso porto e mandou instalar aqui o Telégrafos (como se fosse a internet de hoje chegando no mais remoto povoado); o mesmo que enxergou Daniel Castelo Branco e fez aqui seu império nos negócios; o mesmo que enxergou a família Reis e hoje domina o mercado de bebidas com a Coca Cola, a maior revenda desta região do estado, tendo à frente o visionário Ranieri; o mesmo que enxerga os investidores do turismo; o mesmo que eu e outros poucos filhos (de visão futurista) enxergam neste nosso “país dos Tremembé”, nossa “Sibéria Maranhense”, nossa “princesa do litoral”, que cantou Nonato Freitas, nossa “terra das areias brancas”, que encantou Hélio Maranhão; nosso país do Beach Soccer; aliás, a melhor do mundo é daqui (Adriele Rocha) e não de outro lugar. Esta terra abençoada que Deus a colocou no coração do Delta do Parnaíba e dos Lençóis Maranhasses.

Veja, se Deus a desenhou bem aqui, bem nesse lugar de grandes belezas naturais, ele quis que os homens de visão ampliada pudessem torná-la grande – como merece - no Maranhão, no Brasil e no mundo. Mas, perdoem-me a franqueza, parece que ainda não achamos este homem (ou mulher) que pudesse enxergar o potencial que Tutoia tem.

Nós padecemos do básico, como bem lembrou o governador: “Tutoia não tem água, Tutoia precisa de água”. Ele se referia ao abastecimento público de água. O Arpoador - a nossa nova Jeri, a nossa nova Barra Grande, a nossa joia do Delta-Lençóis - não tem abastecimento público de água. Já se fala em instalar ali um aeroporto para receber o mundo todo que vem em busca das nossas belezas, mas lhe falta o básico.

Tutoia carece de muitas outras cosias básicas: organização do trânsito, atendimento de excelência nos empreendimentos do turismo, pavimentação, melhoria na saúde, etc. O que Deus nos deu de graça e temos de sobra: terras ricas, mar rico (em pescado e em calcário marinho), rios, dunas, lagoas, lugares cênicos, não nos estão servindo para gerar riqueza e nos projetar como grande cidade do estado. O que nos falta então? Visão administrativa futurista? Ou outra coisa? Digam-me. Uso as palavras do padre: "De quem é a culpa? Quem é que vamos condenar? Não acusamos a ninguém nem apontamos o nome de quem quer que seja. Cada um de nós tem seus pecados e porque os tem não pode nem deve atirar pedras no telhado do vizinho. Nosso desejo é ajudar a todos os homens de boa vontade que quiserem salvar Tutoia e o faremos sem discriminação alguma, nem religiosa, nem racial, nem econômica, nem político-partidária". Apenas sou um torcedor fervoroso de que dê certo.

O governador prometeu. Vamos ficar vigilantes. O mandatário anunciou pavimentação, balsas para fomentar mais ainda o turismo no Arpoador, hospital...

Ouvimos do prefeito municipal, Viriato Cardoso, que ele tem se empenhado em busca de todos os investimentos para nossa terra, para nossa gente - algo relevantíssimo. Pois se tem boa vontade, ele sabe que pode contar com uma população inteira (mais de 50 mil pessoas) e mais os vizinhos que torcem por nosso crescimento, porque se Tutoia crescer, ela leva junto Água Doce, Araioses, Paulino Neves e região. São mais de 100 mil pessoas. Avante, Tutoia!

Mas, não nos esqueçamos, nos falta muita coisa: não se tem polos universitários, não se tem água, não se tem um Viva Procon (para emitir documentos; isso é básico!), não se tem indústrias. Aliás, perdemos a nossa indústria do sal que produzia mensalmente 35 mil toneladas, abastecia parte do mercado doméstico e exportava para o exterior. Nosso porto vivia cheio de navios, o negócio era pujante. Mas, na década de 90, tudo acabou. Não só paramos no tempo. Regredimos. Todo o sonho do coronel Paulino Neves afundou.

Mas, a nossa Tutoia dos nossos dias tem produtos de relevante valor que podem ser convertidos em riqueza e renda: o turismo, a pesca, a agricultura, a cultura, o esporte, o artesanato e tudo mais.

Precisamos abrir a mente. Os políticos, que tanto a querem bem, precisam se desprender dos discursos - de que só importa pensar a estratégia para a reeleição - e agir. Precisamos atrair projetistas das universidades para materializá-los em investimentos nos vários setores, notadamente no educacional e o de tecnologia. Houve um tempo em que um secretário de educação teve essa visão e trouxe gente das universidades que fizeram nossa educação dar um salto. Mas, num futuro próximo passado, esquecemo-nos de dar continuidade. Precisamos pegar os nossos melhores homens e mulheres e envolvê-los no projeto, fazê-los produzir para nossa terra. Os nativos são mais fiéis. Eles fazem por amor, não por emprego, por dinheiro. Precisamos identificar e investir em cérebros. Criar salas de preparação para competições internacionais (é assim que o fazem as grandes escolas privadas que aprovam não sei quantos para medicina). 

E fica o aviso: não precisamos de políticos extraterrestre que possam vir p’raqui e se eleger - como já ocorre em cidades vizinhas - e nos deixar somente a ver o navio velho e encalhado. Coloquemos nossas barbas de molho.

Mas, eu acredito: Tutoia é a cidade do futuro!

Fujamos das visões diminutas. Pois, esquecer-me-ei destas se eu vir ações concretas, palpáveis. Vamos explorar sem medo, como o fazem os nossos bravos pescadores. 

Por isso, julgo, é da mais alta importância relembrarmos do que escreveu Hélio Maranhão (1964): “O ilustre paladino de Tutoia [Paulino Neves], falecendo em 1941, deixou uma cidade próspera, venturosamente marcada pela sua presença de homem público, exemplo vivo de consagração à causa de um povo, capaz de empolgar os homens de hoje, bem como a juventude do Delta que desperta e ouve falar de seu nome que é um símbolo de progresso, um padrão de trabalho e um sinal de honradez”. Lembremo-nos do que disse o governador. Lembremo-nos do que diz cada visitante que vem aqui e se encanta.

Padre Hélio escreveu em 1964, mas parece que escrevia para o hoje: "A cidade caminha para novos roteiros com seus problemas que poderão ser resolvidos se os homens de boa vontade se unirem todos em torno da mesma visão comum e das mesmas preocupações. Com esta constatação realista vai um apelo a todos os homens e Tutoia, para que juntos carreguemos o destino da terra comum que Deus nos confiou, berço de gente tão ilustre, hospitaleira, generosa, cativante e boa". 



"O povo de Tutóia, frugal por natureza, se contenta com pouquíssimo. Daí a situação penosa e miserável. Daí a exploração por que passa tôda esta gente, magra, triste, analfabeta, na grande maioria, vítimas de espertalhões que, com algumas belas exceções, têm transformado o Delta em "vaca de cocheira". donde tudo se tira e quase nada se lhe dá" (Pe. Hélio Maranhão, in: Jornal do Maranhão, em 20.09.1964, p. 5.)

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