É, meus caros leitores, parece que a DEMOCRACIA sempre encontra maneiras surpreendentes de se reinventar, não é mesmo? Enquanto alguns se vangloriam em usar o espaço democrático como palco para encenar o "grande espetáculo" do antissistema – a despeito de sua inegável afeição ao fascismo –, outros surpreendem pela responsabilidade do cargo e, percebem que chegou a hora da centro-direita maranhense se organizar.
Neste contexto, observemos os atos tresloucados do eterno representante dos empolgantes paradoxos políticos: Lahesio Bonfin. Este personagem, cuja performance quase cômica revela que a liberdade de expressão pode ser empregada na arte da subversão democrática, eis que proclama, com toda pompa retórica, a exclusividade de sua figura como única alternativa “legítima” à oposição, tanto que vocifera, sem qualquer medo de envergonhar quem o conhece, que a prefeitura de São Luís deve ser usada como “barricada” ao poder do Palácio dos Leões. Assim, inadvertidamente, ele nos oferece um manual prático de como transformar o deboche e o oportunismo em um espetáculo de sátira política.
Não podemos, porém, deixar de evocar o sempre cultuado Padre Antônio Vieira e seus imortais Sermões, ecoados nas terras maranhenses entre 1653 e 1661. Vieira, cuja oratória era um verdadeiro artefato de pregação e, simultaneamente, um instrumento de persuasão, brincava com as palavras e as metáforas a fim de denunciar as injustiças e exaltar os valores éticos essenciais. No “Sermão do Bom Ladrão”, por exemplo, ele lança palavras afiadas na Capela Real:
“Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.”
“O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera. Suponho finalmente que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida. [...] Não são só ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa: os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões.”
Tais palavras revelam com atualidade – e um toque irônico – o papel dos privilegiados na sociedade, denominados “ungidos”. Vieira insinuava que, enquanto o “roubar com pouco poder” é relegado à simplicidade dos piratas, o mesmo ato, quando executado com o poder dos grandes impérios, se transforma em legítima grandeza, absolvida pelos tribunais do poder.
Se aplicarmos essa lógica à atual cena política maranhense, percebemos que alguns atores modernos se apropriam da retórica democrática para, quase que ironicamente, endossar a exclusividade de seu próprio protagonismo, transformando o debate em um verdadeiro espetáculo de disparidades e contradições.
Enquanto Lahesio Bonfin tenta “sequestrar” o discurso de oposição de Eduardo Braide, promovendo – com ironia refinada – a ideia de que somente ele pode, de maneira quase messiânica, enfrentar os males que assolam nossa pobre terra. Assim como Vieira advertia sobre o poder desmedido e a corrupção moral daqueles que, ao comandar exércitos, se tornam verdadeiros “déspotas” absolvidos, a encenação política atual mostra que o populismo se disfarça de defesa dos fundamentos democráticos, alimentando-se do próprio veneno que pretende combater.
Diante de tal cenário, urge – com uma pitada de sarcasmo e a gravidade que a situação impõe – que a centro-direita maranhense desperte para a necessidade de se organizar. Não se trata meramente de uma disputa eleitoral, mas de um chamado à maturidade política, onde os ensinamentos dos antigos sermões – tão perspicazes quanto atuais – lembram que a verdadeira autoridade reside no compromisso ético e na defesa intransigente do bem comum.
Portanto, com o tom irônico que a realidade exige e relembrando os sábios ensinamentos do Padre Antônio Vieira, deixamos um alerta: que a centro-direita, inspirada pelos Sermões do Bom Ladrão e pelos ecos de uma história que ainda reverbera nas praças maranhenses, abrace a responsabilidade de preservar a dignidade e a integridade do debate democrático. Afinal, se não formos nós, quem salvará o bom senso em meio a tamanha encenação?
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