PROFECIAS DE UMA CRISE ANUNCIADA: AMEAÇAS INTERNAS, LANÇAS CONTRA DINO


Imagem: Divulgação 


Enquanto ainda ecoam as palavras ríspidas e irônicas do governador Carlos Brandão (PSB) contra seu vice “Felipe Camarão” e se elevam dardos retóricos em direção ao ex governador Flávio Dino — hoje ministro do STF — o tabuleiro político do Maranhão mostra se mais intrincado que nunca. O que antes cabia ao simples ajuste de contas interno entre antigos aliados, converteu se em uma guerra de trincheiras: de um lado, Brandão e sua tropa de aliados com escaramuças retóricas e ácidas, do outro, os satélites “dinistas” que, alinhados sob o “imaginário comunista”, ainda orbitam próximas às engrenagens da administração estadual e contam com a imagem sempre temerosa de um ministro do STF com amplo poder de fogo.



“DEMOCRACIA É QUANDO EU MANDO EM VOCÊ. DITADURA É QUANDO VOCÊ MANDA EM MIM.”

Nas antológicas palavras de Millôr Fernandes, “democracia é quando eu mando em você; ditadura é quando você manda em mim” — ironia perfeita para descrever o atual mar de trocas de acusações de traição que se instalou dentro do ambiente político do Maranhão. É que aqui, “mandar” significa, também, nomear secretários, manter sinecuras nas cercanias da máquina pública, celebrar contratos e usar recursos públicos sem fiscalização: o verdadeiro exercício da “democracia” estadual.



ESTRATÉGIA DE PODER: MÁQUINA ESTATAL COMO TROFÉU

Aqui no Maranhão, mais que em qualquer lugar, o poder político não se mede apenas em votos, mas no controle de pastas, contratos e repasses vultosos: a verdadeira “força política” mora no uso da máquina governamental. Secretarias, contratos e convênios são comandados por grupos que, à décadas, se agarram às tetas do Estado, mostrando que, como alertou Millôr, “o poder é o camaleão ao contrário: todos tomam a sua cor.” Cada indicação ou liberação de verba reproduz o mesmo matiz corporativo, deixando o erário com a cor dos predadores.



“AS PESSOAS QUE FALAM MUITO MENTEM SEMPRE, PORQUE ACABAM ESGOTANDO SEU ESTOQUE DE VERDADES.”

Não por acaso, os pregões midiáticos de Brandão e afins só multiplicam o ruído e pouco dizem sobre prioridades reais para o Maranhão: pobreza secular, ausência de investimentos, salto na educação pública, diminuição da pobreza.

Neste sentido, Millôr Fernandes nos lembra: “as pessoas que falam muito mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades.” Assim, entre bravatas e pedidos de “união em nome do Maranhão”, sobra retórica e falta ação, enquanto o clã atual controla a cena política, tenta manter o controle da máquina pública e enche os bolsos e de alguns apaniguados.

Eis que, somados aos ensinamentos de Millôr, percebemos a cristalização daquilo que Raymundo Faoro chamou em Os Donos do Poder de “patrimonialismo burocrático”: o uso do aparelho estatal como propriedade privada de grupos familiares e políticos.

No Maranhão, nunca houve distinção entre público e particular — o Estado sempre funcionou como extensão de um “latifúndio político”, em que indicação de secretário e de cargos públicos equivale à concessão de terra e contratos viram colheita de renda.



CENÁRIO DE 2026: ALIANÇAS EM XEQUE

A poucos meses das eleições de 2026, Brandão não só trava embates com Felipe Camarão como fustiga o grupo que bebe no copo de Flávio Dino, costurando alianças que dependem de favores administrativos. Tal qual descreveu Millôr sobre o discurso eleitoreiro — “como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem” —, muitas legendas e lideranças locais se mantêm aliadas por interesse, sem a menor afinidade programática.



“O DINHEIRO NÃO É SÓ FACILMENTE DOBRÁVEL, COMO DOBRA FACILMENTE QUALQUER UM.”

E, por fim, na seara da corrupção, Millôr foi ainda mais direto: “o dinheiro não é só facilmente dobrável, como dobra facilmente qualquer um” — ou, em sua versão transgressora, “roube ainda hoje! Amanhã pode ser ilegal.” No Maranhão, a ambição por contratos e secretarias dobra — e às vezes quebra — princípios, enquanto o cidadão fica à margem do banquete.



O PARADOXO MARANHENSE

Não se enganem: o grande embaraço não é o ruído do bate boca entre governador e vice ou a bravata contra o Flávio Dino, mas a nítida incapacidade do Parlamento e da sociedade de frear o desvario da prática politica. Resta saber se teremos essa inteligência para, enfim, devolver ao Maranhão uma democracia que obedeça ao povo — e não aos devoradores das tetas do Estado.

Até quando assistiremos a essa ópera de conchavos, ameaças públicas e clientelismo escancarado? Quando veremos um governo pautado pelo interesse coletivo, e não pelo arranjo de raposas que rondam o galinheiro? Enquanto isso, seguimos reféns de um paradoxo: um poder que, em nome da governabilidade, devora o erário e se recusa a prestar contas.



A NOVA GUINADA NA GUERRA FRIA BRANDÃO×DINO

Em recente aula magna em São Luís, o ministro Dino, espetando o governador Brandão, saudou o vice governador Felipe Camarão (PT) como futuro candidato a governador e, em tom de brincadeira, sugeriu a professora Teresa Helena como sua vice. Foi o estopim para a relação com Brandão — que vinha mais tensa ainda nos bastidores — explodir em plena luz do dia.

Enquanto Dino provoca Camarão, bolsonaristas ameaçam acionar CNJ e Senado, e Brandão lança recados velados sobre quem “pode” ou “não pode” governar daqui a um ano.



A SUCESSÃO SOB TENSÃO: SOBRINHOS, FAMILIARES E DISSIDÊNCIAS

Planta se aí o embrião de 2026: Brandão ensaia lançar o sobrinho Orleans (MDB), escolhe aliados com olho em herdeiros políticos e evita entregar o estado a quem “vai perseguir seus amigos”. O rompimento com Othelino Neto (Solidariedade), defensor de Camarão, e as disputas judiciais pela presidência da Assembleia e vagas no TCE revelam que, quando a máquina estatal está em jogo, até o voto vira moeda.



“O DINHEIRO NÃO É SÓ FACILMENTE DOBRÁVEL, COMO DOBRA FACILMENTE QUALQUER UM.”

E, por fim, na seara da corrupção, Millôr foi ainda mais direto: “o dinheiro não é só facilmente dobrável, como dobra facilmente qualquer um” — e Faoro mostra que, nesse tabuleiro patrimonial, quem controla a grana controla o futuro.



O PARADOXO MARANHENSE E A URGÊNCIA DA MUDANÇA

A poucos meses das convenções, Brandão e Dino duelam com ironia e ameaças, enquanto o povo espera um governo pautado no interesse coletivo, não num conluio de raposas. Se a democracia aqui é ditada pelo loteamento do Estado, resta perguntar: estaremos condenados a esse ciclo de conchavos e clientelismo, ou haverá tempo para resgatar a ideia de política como serviço público?





Texto: do advogado e 
comentarista político 
Dr. Vitélio Shelley. 

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