Na era em que todo dedo vira tweet e qualquer “analista” ganha holofote, impõe se um lembrete: blogueiro não é jornalista — e isso faz toda a diferença. O primeiro, senhor de seu ‘nicho’ e de sua opinião (remunerada), desfruta de liberdade irrestrita: posta receitas ou teorias da conspiração sem dever satisfação a código ético algum. O segundo, treinado para informar o interesse público, respalda se em apuração rigorosa, imparcialidade e transparência de fontes — ingredientes que faltam aos influenciadores que vendem indignação em troca de sinecura e contratos oficiais.
Na verdade, nua e crua, muitos blogs políticos, hoje, sobrevivem a troco de sinecuras funcionais — cargos comissionados, contratos e “parcerias” com governos locais — o que compromete sua autonomia e transforma crítica em propaganda contratada, pois, sob a pretexto de denúncia, repetem narrativas de “injustiçados” que, na verdade, são alimentados pelas próprias oligarquias que juram combater.
Então, vamos combinar o óbvio: blogueiro não é jornalista, muito embora, nesses tempos fluídos, pouca gente note a diferença.
Porem, antes de adentrarmos, um pouco mais, na crítica aos blogueiros políticos - que se travestem de arautos independentes enquanto servem de megafone a oligarquias (qualquer uma que esteja disposta a pagar)-, convém observar que é justamente essa diferença de foco e ética que nos ajudará a entendermos como certos blogueiros, munidos de ressentimento e motivações diversas, acabam funcionando como extensões de poderosos, em vez de cumprir um papel fiscalizador da coisa pública.
Mas por que tão poucos se importam e por que trazer a baila essa (aparente) contenda?
É que na versão de hoje (16/5/25) de seu espaço na mídia, o blogueiro Domingos Costa trouxe notícia acerca de possível agressão do vice-governador a deputada Mical Damasceno. Como ele mesmo aponta em seu espaço, A CONVERSA TERIA SIDO ESTARRECEDORA, ou, usando seu próprio texto: “usando palavras chulas e que não condizem com o comportamento de um vice-governador, Camarão afirma que não teria coragem de praticar ato sexual com a deputada pela maneira como ela se comporta”.
Para parecer neutro, Costa informa que recorreu a outra fonte de fofoca – o blogueiro Victor Landim – e até entrevistou o próprio Felipe Camarão, que negou tudo e soltou uma nota indignado. O que existe de verdade (ou não) nos fatos reportados, talvez, nem mesmo os envolvidos saibam, mas a rapidez na postagem, inegavelmente - vindo de um blogueiro que, entre dez postagens diárias, quinze tem endereço certo e motivos muito claros – caiu ‘como uma luva’ aos recentes entreveros entre o Governador Brandão e seu vice, que como todos sabemos, é concorrente à vaga de candidato ao governo do Estado.
Mas quem disse que reportagem é isso?
No mundo blogueirístico, isca de cliques vale mais que a verdade. E no mais, o timing foi perfeito: a postagem de Costa, entre dezenas diárias, caiu “como uma luva” no intervalo dos desentendimentos públicos entre Brandão e seu vice. Ficou claro que, para muitos influenciadores, a agenda política é mero cardápio de conveniências.
O que resta indisfarçável (e aqui não se faz a defesa de qualquer possível agressão misógina ocorrida) é esse “botox ideológico” que exala da ‘manchete’ que, no mesmo dia, veja só, denuncia (também) o prefeito Eudes Barros da cidade de Raposa (um antigo desafeto do blogueiro) por roubo, ei que segundo a pena do blogueiro, houve assalto em Raposa pelo prefeito por “aplicar a cobrança do IPTU no município, alardeando, em tom de vestal da honradez que: “a atitude de Eudes é histórica, visto que ele é o primeiro prefeito a cobrar IPTU direto aos raposenses, nenhum outro gestor (a) teve essa audácia ao longe dos 30 anos da cidade, visto que o município não possui as mínimas condições para esse tipo de cobrança”.
Não se engane: o blogueiro sabe muito bem que aplicar a cobrança de imposto é uma determinação prevista em Lei Federal, a saber na LFR que determina a responsabilidade pela gestão fiscal, inclusive na cobrança de impostos pelos gestores, prevendo sanção para os entes federados e gestores que não cumprirem as obrigações estabelecidas, incluindo a proibição de receber transferência da União e a suspensão de operações de créditos.
Mas para o blogueiro, denúncia que interessa é aquela aplaudida pelo seu patrocinador de plantão. A contradição que SE desvela é que o blogueiro veste se de arauto independente enquanto recebe sinecuras de quem deveria investigar. OU SEJA: denuncia, quando quer, aqueles que possam servir aos que lhes é conveniente e que lhe assegure prebendas. Tudo não passa na verdade de crítica por encomenda, sem um pingo de criatividade ou coragem real.
O antídoto para tudo isso? Resgatar a força criativa e o compromisso com a verdade; exigir clareza sobre quem financia cada linha; e ensinar educação para a mídia desde cedo, para que o público exija mais do que opinião embalada em retórica vazia.
Só assim escaparemos dessa “geléia geral infértil” de vozes que se dizem livres, mas só cantam conforme a partitura de poderosos. Afinal, informação não é mercadoria: é um ato de cidadania.
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