A política, essa arte cuja semelhança com o xadrez muitas vezes beira a caricatura, não poderia deixar de surpreender quando uma simples mexida no tabuleiro causa frisson em quem assiste. Aqui no Maranhão, a “peça” da vez é o prefeito de São Luís, Eduardo Braide, que, ao lançar precocemente sua candidatura ao governo do estado, acendeu faróis que alguns teimavam em manter apagados — provavelmente por conveniência ou por um descuido estratégico.
O fato de Braide não se declarar, de imediato, como membro do clube Lula ou do time Bolsonaro é uma carta na manga que nenhum analista minimamente atento pode ignorar. Afinal, a sociedade brasileira anda tão polarizada que, por vezes, parece que só existem dois caminhos: abraçar o vermelho ou vestir a camiseta verde-amarela. Em solo maranhense, a lógica não difere muito. Temos um universo de mais de 5 milhões de eleitores que, até então, se viam entre o fogo cruzado do lulismo e do bolsonarismo — ou, como preferem alguns, a escolha entre o “menos ruim” e o “mais do mesmo”.
Uma Terceira Via em Terras Maranhenses?
Pois é, eis a questão que tira o sono de muita gente. O surgimento de uma terceira via, de alguém que foge à dicotomia Lula-Bolsonaro, ameaça roubar o discurso da inevitabilidade, aquele em que o eleitor se veria sem opção além do candidato do Palácio dos Leões ou do eterno Lahesio Bonfin. A narrativa do “bem contra o mal”, tão propícia a radicalismos e aos suspiros apaixonados, de repente sofre um abalo sísmico: se há alguém que não veste a camisa do PT nem estampa a bandeira ultraconservadora, que caminho seguir?
E Braide, vale frisar, é bem avaliado na famosa Ilha Rebelde. Sua gestão em São Luís, aos olhos de muitos, tem saldo positivo — o que, para um governante brasileiro, convenhamos, não deixa de ser uma proeza. Some-se a isso as fissuras (ainda não devidamente preenchidas) no grupo do atual governador Brandão e o fato de que o prefeito de São Luís, mesmo podendo facilmente recitar o mantra conservador para agradar à parcela mais à direita, não o fez até agora. Talvez por convicção, talvez por cálculo. De toda forma, isso embaralha o jogo a ponto de o “voto no menos ruim” se tornar menos previsível num eventual segundo turno em 2026.
O Cenário Nacional e as Nuances Locais
Falemos de Brasília: o presidente Lula enfrenta certa turbulência, sobretudo no que diz respeito à economia e aos humores volúveis do Congresso. Já Bolsonaro, inelegível e cada vez mais enrolado com a Justiça, parece ver sua estrela — outrora tão reluzente — minguar. Nesse vácuo de poder, quem conseguir empunhar uma bandeira que não seja nem vermelha nem bolsonarista pode, sim, atrair quem anda cansado da briga ideológica. E é justamente nesse hiato que Braide se insere, prometendo, ao que tudo indica, falar a língua de um eleitorado que se sente órfão de alternativas.
Se esse candidato “neutro” tiver a habilidade de alcançar o eleitor do interior (onde a empatia ou a falta dela do atual governador podem pesar), a receita de uma disputa acirrada no segundo turno está dada. Afinal, o primeiro turno no Brasil costuma ser uma espécie de catarse: o voto anti-alguém. Já o segundo, inevitavelmente, obriga o eleitor a refletir melhor — ou, ao menos, a refugar o arrependimento tardio.
Um Movimento Antecipado em Tutóia
Nessa dança de alianças, chama atenção o vereador RAIMUNDO SINTRAF, liderança do PDT em Tutóia, que saltou do barco de seus antigos aliados para abraçar o projeto de Braide. O movimento, feito com mais de três anos de antecedência, pode ser lido como ousadia ou oportunismo — mas, em política, muitas vezes essas duas palavrinhas são irmãs siamesas. Com a decadência (pelo menos momentânea) de figuras locais (como DIRINGA) e os tropeços da gestão VIRIATO (ligada ao enrolado Dep. Jo$imar), o vereador conseguiu se afastar de um guarda-chuva que já vazava e, de quebra, aproxima-se de alguém com chances reais de vitória. Golpe de mestre? Bem, os descontentes de plantão provavelmente concordarão.
No fim das contas, a política maranhense segue como um tabuleiro de xadrez. Quem move as peças de forma mais silenciosa e com um olho no futuro costuma sair em vantagem. Resta saber se as estratégias que se desenham agora resistirão às reviravoltas do calendário eleitoral — e, claro, às nossas peculiares paixões políticas, sempre prontas a trocar a lógica pelo fervor de uma camiseta ou pelo aceno de um palanque.
Enquanto isso, seguimos nós, meros observadores, tentando decifrar os sinais, com a leve impressão de que cada jogada contém mais ironia do que gostaríamos de admitir. E que venham os próximos lances!
Texto: do advogado e
comentarista político
Dr. Vitélio Shelley.
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