"Política não é para amadores"

Imagem: Divulgação. 


De início, é importante destacar que não existe um padrão único para a prática política no interior do país. Há regras a serem seguidas, mas não há uma uniformidade nacional nesse aspecto. No contexto local de Tutoia-MA, por exemplo, houve um período em que a região do Jardim foi dominada pelo grupo de Zilmar Melo, enquanto a região Santaneira esteve sob a influência do ex-deputado Zé Orlando. Essa configuração de domínio ou de influência sobre os votos de cada corredor eleitoral, como chamamos a nível local, mudou com a ascensão de Diringa, que passou a dominar politicamente essas e outras muitas áreas, tanto que tirou três mandatos (2009-12; 2013-16; 2021-24). Entretanto, por dinâmica própria da política, vem mudando com os novos tempos e com novas lideranças, aliás, não se tem mais a figura presente da liderança, posto que o eleitor passou a ter opinião mais autônoma, decidindo por si ao invés de ser orientado por um cabo eleitoral, mudando sobremaneira as configurações políticas locais.

Diante disso, cabe ao governo a habilidade de compreender como essa dinâmica se desenvolveu no passado e saber aproveitá-la no presente. Não é, por exemplo, seguindo à risca as orientações de um deputado federal ou senador que a política local se aplicará de forma eficiente. Esse modelo não funciona exatamente dessa maneira.

Não obstante, o conceito mais difundido de governo é o “conjunto de funções e autoridade que rege uma nação ou unidade política, com o objetivo de organizar e regrar a sociedade”, tendo sua fundamentação nos conceitos de estado, governo e de poder inspirados nos pensamentos de Hobbes, Rousseau, e, principalmente, de Locke e Montesquieu. Já a política, de forma resumida, pode ser entendida como "a ciência moral normativa do governo da sociedade civil”.

A título de mais exemplo, na campanha eleitoral de 2016, no município de Água Doce do Maranhão, vizinho a Tutoia, a então candidata Thalita Dias, filha do ex-prefeito e um dos maiores mandatários daquela municipalidade, Eliomar Dias, proferiu uma frase contra o seu adversário, o naquela ocasião prefeito Rocha Filho, que há anos lutava para chegar ao poder, foi eleito, perdeu a eleição para a jovem prefeita que proferiu a frase no palanque de campanha: “Rocha, você vai perder a eleição porque você não trata bem o povo, não sabe fazer política, prefeito amador”, foi incisiva. Naquele ano, Rocha perdeu feio a eleição, e Thalita seria reeleita em 2020. E sua tia, irmão de Eliomar Dias, foi eleita, vencendo a opositora, a vereadora Carminha.

Sobre só tirar um mandato porque também foi rejeitado pelo povo, está o exemplo de Romildo do Hospital. Eleito com expressiva votação e aclamação popular em 2016, mas tiraria apenas um mandato e sairia demasiadamente rejeitado em 2020, perdendo exatamente para o ex-gestor Diringa Baquil. De outro modo, em 2024, Diringa perde para Viriato Cardoso que também é eleito nos moldes do que fora Romildo e isso por si só pesará sobre seus ombros: essa expectativa grande da população em torno dele, esperando seja uma espécie de “salvador da pátria”. Qualquer gestor que é eleito nessas condições, tende, pelo menos em tese, a ter um governo com algumas dificuldades, seja na nomeação do secretriado, que pode desagradar a opinião popular, seja enfrentando a oposição, que sempre procurará um passo em falso para criticar. 

O que quero destacar é que, em cidades interioranas, é preciso saber fazer a política local. Não se pode abandonar o populismo, o varejo, e, acima de tudo, é fundamental tratar bem o povo, pois, se este sentir o mínimo de abandono, ou que suas expectativas estão sendo frustradas, mudará rapidamente, mesmo que seja para voltar ao gestor anterior. Essa prática, ou modus operandi, tem sido observada em todas as cidades da região, como Santana do Maranhão, Paulino Neves, Araioses, entre outras.

É preciso saber como agir, pois há eleitores que se aproveitam demais da situação. Vou contar uma história. Havia um pretenso candidato, que ainda não sabia se concorreria ao cargo de vereador ou prefeito, mas acabou decidindo candidatar-se a este último. Ocorre que muitos anos antes da campanha começar, ele já recebia em sua casa diversos eleitores. Havia um em particular que, uma vez por semana precisava vir da zona rural para a sede, chegava de manhã, cedinho, antes do café, batia à porta, mal o casal preparava-se para levantar. Recebido, o visitante se acomodava no sofá, de maneira bastante confortável, como se estivesse em sua própria casa, com a cabeça em uma ponta e os pés na outra e assistia à televisão.

Após o café, como os filhos do casal estudavam e saíam para a escola, tanto a esposa quanto o candidato iam trabalhar. Para agradar o pretenso eleitor, entregaram-lhe as chaves da casa e permitiam que ele fizesse o que precisasse para se alimentar. Ao sair, deveria deixar a chave em um local combinado. Isso aconteceu por anos.

Quando a campanha de fato começou, o candidato contava com o apoio desse eleitor, uma vez que havia uma relação de amizade. Para a sua surpresa, o tal eleitor, de forma sorrateira, informou ao casal que não poderia votar na candidata a vereadora indicada pelo candidato, nem nele para prefeito, porque já havia firmado um compromisso com outro candidato a vereador, que era seu primo, e com o prefeito que ele apoiava.

O que se conclui disso é que, no mundo da política, há muita falsidade e ingratidão. Soube-se depois que os candidatos para os quais ele votou haviam prometido alguns sacos de cimento e tijolos para construir um puxadinho em sua casa, situada em uma distante comunidade da zona rural, mas a promessa não foi totalmente cumprida.

Por fim, sempre é bom lembrar que o líder não cria grupinhos, ele une seus liderados. Citemos uma frase do filósofo e educador Mario Sérgio Cortella nos ajuda a ilustrar esse ponto: “Nem todo chefe lidera e nem todo líder chefia. A chefia é um cargo. Liderança é uma atitude.”

A diferença entre chefia e liderança é fundamental para compreendermos as frustrações e os desafios que surgem tanto para quem ocupa cargos de poder quanto para aqueles que estão sob sua autoridade. Nem sempre a chefia está alinhada com uma liderança eficaz, capaz de inspirar e motivar. Por outro lado, uma liderança genuína vai além do cargo e se manifesta em atitudes que fortalecem a equipe e a tornam mais unida e comprometida com os objetivos coletivos.

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