A NOVA ROTA DA SEDA: Perspectivas para o Brasil


 



A Nova Rota da Seda, oficialmente conhecida como "Iniciativa Cinturão e Rota", representa um colossal plano de investimentos liderado pela China, visando expandir sua influência econômica e política global. Lançada em 2013 pelo governo chinês, esta iniciativa procura replicar a antiga Rota da Seda, que durante séculos conectou a Ásia à Europa, desta vez abrangendo uma rede global de infraestrutura. Estima-se que os investimentos já realizados chegaram a 1 trilhão de dólares, alcançando regiões como África, Oceania e América Latina. A China agora deseja que o Brasil se una a este ambicioso projeto.


A participação brasileira na Nova Rota da Seda traz implicações econômicas e políticas significativas. A China é, desde 2009, o principal parceiro comercial do Brasil, superando os Estados Unidos. Em 2023, as exportações brasileiras para a China somaram 91 bilhões de dólares, mais do que para os Estados Unidos e a União Europeia juntos. A adesão ao projeto chinês poderia facilitar a chegada de produtos brasileiros ao mercado asiático, reduzindo custos logísticos e aumentando a competitividade. Contudo, há um receio de que a influência chinesa na América Latina se intensifique, gerando possíveis tensões geopolíticas, especialmente com os Estados Unidos.


Entre os benefícios potenciais, destaca-se o acesso a um fundo de 40 bilhões de dólares em investimentos chineses. No entanto, a desaceleração da economia chinesa pode tornar essas condições menos favoráveis do que no passado. Além disso, investimentos em infraestrutura poderiam resolver gargalos logísticos que encarecem os fretes do agronegócio brasileiro, conforme apontado por defensores da adesão. No entanto, analistas alertam que os efeitos práticos no curto prazo seriam limitados, sugerindo que a iniciativa teria um impacto mais político do que econômico.


Por outro lado, existem preocupações quanto à sustentabilidade das dívidas contraídas sob a Nova Rota da Seda. Países como Sri Lanka já enfrentaram dificuldades para honrar suas obrigações, resultando na transferência de ativos estratégicos para a China. Tais situações levantam questionamentos sobre a "armadilha da dívida" e os possíveis impactos ambientais e sociais dos projetos chineses, especialmente sobre populações indígenas e tradicionais.



Internamente, a possível adesão do Brasil ao projeto chinês gerou um debate acirrado entre diplomatas do Itamaraty e aliados próximos ao presidente Lula. Enquanto o Itamaraty adota uma postura cautelosa, valorizando a manutenção de boas relações tanto com a China quanto com os Estados Unidos, a ala mais próxima de Lula, incluindo o assessor especial Celso Amorim, vê com bons olhos a integração do Brasil à Nova Rota da Seda. Esta divergência interna reflete as complexas escolhas que o Brasil enfrenta, num cenário global marcado por tensões entre grandes potências. Em suma, a decisão de aderir ou não à Nova Rota da Seda é uma questão que exigirá uma análise cuidadosa dos riscos e benefícios envolvidos, tanto no âmbito econômico quanto no geopolítico.



 

 

Coluna do professor Antonio da Luz

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