GOVERNANTES DE TUTÓIA: José Matos Silva





TUTOIA FORA DA REPÚBLICA DE PLATÃO – Quando Platão idealizou a sua República disse que ela para ser perfeita, funcionar 100 por 100 bem, não aceitaria poeta. O poeta está sempre vendo as coisas por outro ângulo. Está sempre a perigo. E é um perigo. Um poeta sentado está sempre em pé de guerra, como diria o amigo cartunista curitibano Luiz Antonio Solda.


O poeta José de Matos Silva não entrou na República de Platão, mas se tornou prefeito de Tutóia, em mais de uma ocasião. Numa destas, foi pela renúncia do titular Celso de Almeida Véras que, não suportando a politicagem, preferiu continuar cuidando dos negócios particulares dele. Tinham sido eleitos a 3 de outubro de 1960. Tomaram posse a 31 de janeiro de 1961. A saída de Celso de Almeida Véras se deu em 1962.


O país entrou em turbulência política. O maluco do Jânio Quadros, eleito presidente da República (também a 31 de janeiro de 1961), por um pequeno partido, sem compromisso algum com ninguém, mil promessas que não poderia cumprir, imaginou um golpe emocional renunciando para retornar ao poder, nos braços do povo, como ditador. Filme, guardadas as proporções, repetido com o Collor de Mello e agora com o Bolsonaro. Jânio Quadros renunciou a 25 de agosto de 1961, sem conseguir o objetivo.


O vice-presidente João Goulart, considerado homem à esquerda, passou por aperreios para poder assumir o cargo. Muitas águas passaram pelos riachos de Tutóia. Finalmente, a 2 de setembro, o Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional que instalou o parlamentarismo, limitando os poderes presidenciais. Nesse mesmo dia, João Goulart embarcou para a capital federal, cercado de um rigoroso esquema de segurança. Finalmente, a 7 de setembro de 1961 foi empossado na presidência da República. Impuseram Tancredo Neves como primeiro-ministro.


Enquanto isto se passava lá em cima. Cá, embaixo, no dia 1 de abril de 1964, bem cedinho, a população tutoiense, liderada pelo prefeito José de Matos Silva, com o apoio do presidente do Sindicato dos Estivadores Marítimos Adelino Fernandes da Silva, o Dindô, desfilou pelas principais e arenosas ruas da cidade, gritando palavras de ordem e exibindo bandeiras vermelhas, algumas delas com foice e martelo, em apoio ao presidente João Goulart.


Por volta das 14 horas, quando chegou a notícia da deposição do presidente João Goulart e tendo os militares garantido o golpe, a correria foi grande.

 

Dois dias depois, um destacamento do Exército, sob o comando do capitão Miranda chegou a Tutóia com ordens para a Câmara Municipal cassar o mandato do prefeito José de Matos Silva. O presidente Zilmar Melo Araújo convocou sessão extraordinária, com a presença dos militares do Exército e da Capitania dos Portos, e botou em votação a cassação ou não do prefeito.


Os quatro vereadores da situação votaram contra. Os quatro da oposição votaram a favor. O presidente da Câmara Zilmar Melo desempatou a favor do prefeito. Os militares ainda tentaram intervir, mas foram contidos pela força moral do presidente da casa e retornaram aos quartéis de origem, sem represália.


Por conta deste, e de outros atos anteriores, José de Matos Silva teve administração vigiada pelos coturnos. Inclusive chegou a ser chamado para depor algumas vezes na Polícia Federal. Contudo, a sua vida ilibada falava sempre mais alto. Decepcionado, ao fim do mandato, tendo feito o sucessor, retirou-se da política. Mudou-se para Fortaleza. Retornou a Barro Duro, onde passou a fazer versos e tocar violão. Publicou O Meu Paneiro de Versos.


Aos 81 anos de idade. Adoentado, foi para Fortaleza, onde faleceu a 5 de setembro de 1999.


O ex-prefeito e poeta José de Matos Silva na porta do jeep. Ao lado dele

talvez seja o senhor Carlinhos Avelino. Quem poderá confirmar?



Texto: Kenard Kruel

Fotos: Arquivo do Kenard Kruel




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