GOVERNANTES DE TUTÓIA: ARTHUR DE ALMEIDA ATHAYDE




Fazer o perfil de uma pessoa é tão fácil como amordaçar um lobo, diria o poeta piauiense Paulo Machado. Estando viva, seria tiro e queda. Morta, a família daria cabo do que queremos: dados, com fotografias. Ou mesmo recorrer aos jornais da época. Pelos cascos do Aline Ramos, tudo seria divino, maravilhoso se fosse assim. Mas, não é. 


E provo. Há dez anos, quando cheguei, auto exilado a Tutoia, onde Deus faz a morada, que eu venho pesquisando a história tão rica deste paraíso na terra.


A primeira dificuldade. Tutoia nunca teve jornal. O professor Sérgio Ramos me falou de um jornal que foi feito aqui, mas, salvo engano, de um grupo estudantil juvenil e de vida curta. Chamava-se o Grito, dos alunos do Colégio Almeida Galhardo. Estou falando de jornais como O Combate, Diário de S. Luís, O Pacotilha, Jornal Pequeno etc. Nem mesmo os jornais partidários, tão comuns, nunca houve. Neles encontraríamos as rixas, as verrinas, os ataques e as defesas dos adversários que nos ajudariam a ter alguma informação sobre o período em estudo. Mas, nada de nada. De Tutoia, a saber, só pesquisando nos jornais de São Luís e da Parnaíba. Ainda assim, mais valia a nomeação de um vigia de cemitério do que a eleição, posse ou feito de um prefeito, por exemplo. As notas que encontro, na maioria, são das viagens dos prefeitos de Tutoia a São Luís. Não dizem o que foram fazer lá. O que trouxeram para cá. Todos, porém, visitavam as redações dos jornais, que noticiavam o fato. Mas, não o ato. Incrível. Os prefeitos viajavam com as esposas, sem nomes nos jornais. “Viajou o prefeito Lucas Cardoso Véras e sua distinta consorte”. Consorte sem ter sorte de ter o nome citado.  “Aniversaria hoje a exma. sra. esposa do coronel Paulino Gomes Neves”. 


A segunda dificuldade – Os troncos velhos moravam em Tutoia. Mas os filhos já iam estudar fora, em São Luís, no Rio de Janeiro, na Europa. E por lá mesmo ficavam. Os netos já eram destes lugares. Tutoia passava a ser apenas uma fotografia na parede. Quando muito. Desta forma, pouco ou nada sabem dos habitantes, das ruas, das praças, das avenidas, dos casarios, do povo da cidade. Certo que, naquele tempo, havia dificuldade para tirar foto. O fotógrafo era como um padre em desobriga. Mesmo assim, as fotografias eram feitas, guardadas em caixas de sapato, na parte de cima do guarda roupa, de madeira, caminho natural dos cupins. E elas foram sendo devoradas por estes famintos monstrinhos. Poucos se salvaram. Algumas, sem identificação.


A terceira dificuldade – Tutoia não tem um arquivo público. Um museu. Uma biblioteca de valor. Graças aos cascos do Aline Ramos temos, neste momento, no lugar certo a pessoa certa pensando nestas coisas. A professora Verônica Damasceno, Secretária de Cultura da Tutóia. Com tudo para ontem, como que querendo recuperar o tempo perdido, ela vem fazendo milagre na pasta. Tirando leite de pedra. Os resultados já começaram a aparecer. Nos fazendo confiantes de que há algo de novo na ordem do dia. Uma luz no final do túnel.


Mas, vamos ao que nos interessa, neste textim. Levantar o perfil de Arthur de Almeida Athayde.


Pelos jornais de São Luís, há registro de que, em 1911, pelo Decreto de 29 de novembro, do governador do Estado, Arthur de Almeida Athayde foi nomeado o segundo suplente do juiz substituto federal de Tutoia. Euclides Gomes Neves foi nomeado primeiro, Sabino Francisco da Conceição o terceiro. O ajudante do procurador era João de Souza Matos. Prazo de 4 anos.


O Jornal (MA), de 22 de fevereiro de 1922, 1a página, publicou:

“Interior do Estado - Tutóia, 18 - A Câmara Municipal, reunida em sessão extraordinária, votou uma moção de solidariedade à vitoriosa chapa Bernardes - Urbano para presidente e vice-presidente da República. Fizeram parte do comitê os srs. Paulino Neves, Euclides Neves, José Athayde, Sabino Conceição e Arthur Athayde. Apesar das intrigas, seduções e infâmias da parte dos adversários, conta sair vitorioso o glorioso partido. O correspondente”.

O jornal Diário de S. Luís, de 28 de junho de 1922, página 2, publicou: “Tutóia – (...) O sr. Arthur de Almeida Athayde, capitalista hereditário, que dispõe do melhor elemento dos eleitores deste município e que sempre acompanhou a política do sr. Paulino Neves, hoje em decadência, acaba debaixo de compromisso de honra, perante pessoa de sua conceituada e unida família, de desligar-se, com os seus amigos e correligionários, das fileiras do partido a que pertencia, devido a fatos imperdoáveis aqui praticados pelo atual delegado de polícia, como sejam: - as prisões fúteis do criadinho da casa de sua tia Ana Lima Athayde, que teve a residência invadida pela polícia, de ordem do delegado; e a de Vitorino Ramos, zelador da casa de seu velho e conceituado pai, de saudoso memória, que foi, infamemente, descartado pelo arrogante delegado, sem motivo a justificar semelhante prepotenciário da embriaguez cotidiana.

Oito anos depois, a 4 outubro de 1930 eclodiu, no Rio de Janeiro e em todo país, o golpe que colocou Getúlio Vargas no poder. Nos municípios, o movimento golpista chegou como um vendaval. Nas primeiras horas ninguém se entendia. A ordem do dia era tripudiar em cima dos descaídos - velhas lideranças que há muito dominavam os rincões do país. Tudo devia ser mudado nos cargos públicos, como prefeituras, câmaras, delegacias de polícia, coletorias etc...

Em Tutóia, por exemplo, há mais de 40 anos, todos os cargos importantes estavam com familiares, correligionários e amigos do coronel Paulino Gomes Neves, que foi abalado em seu poder de mando, mas nada estrutural. Foram embora alguns anéis, mas os dedos todos ficaram intactos. Houve, no período, o que eu chamo de dança das cadeiras. Nomeava-se e  desnomeava-se ao piscar de olhos. Vejamos: 

A 14 de outubro de 1930, Arthur de Almeida Athayde foi nomeado para governar a cidade. O mesmo entregou o cargo, a 28 de novembro, ao tenente Graciliano Medeiros, que ficou até dezembro, quando assumiu Lauro Pastor de Almeida, com a presença de um destacamento militar, vindo de Teresina, no Rebocador São Bento, até ser nomeado o comerciante Celso Gomes da Fonseca, a 21 de março de 1931, por ato do interventor federal padre Astolfo Serra.

O novo governante de Tutóia era da casa de Paulino Gomes Neves, posto que casado com Aydê de Almeida Gallas, filha de Francisco de Almeida Gallas, cunhado do coronel, que era casado com a irmã daquele, Maria José Gallas Almeida Neves.

Celso Gomes da Fonseca, nomeado a 21 de março de 1931, foi substituído por Arthur de Almeida Athayde, em novembro de 1931, logo passando o cargo para José Furtado Soares Medeiros. Já se dando sem consulta ao coronel Paulino Gomes Neves, que nada estava gostando do desenrolar dos acontecimentos. Como tinha, ainda, costas largas, reconhecendo o interventor estadual que o coronel Paulino Gomes Neves era homem de alto prestígio, resolveu devolver-lhe as rédeas políticas de Tutóia, no que ele rejeitou, dizendo: - “Decepção, só recebo uma vez.” Resoluto, entregou para Lucas Cardoso Véras, que há muito cavava-lhe o lugar, toda a papelada relativa à vida política de Tutóia.

E o coronel Lucas Cardoso Véras, seu antigo aliado, correligionário, mas, já há muito vinha lhe fazendo sombra, passou a dar as cartas, de vez, na política da cidade.

Arthur de Almeida nasceu em Tutoia, em 1885. Casou-se com Franklina Gomes de Almeida, nascida em Tutoia. Falecida em 1972. Estes, primos entre. Tiveram o filho Cândido de Almeida Athayde, que se tornou médico brilhante, com forte atuação na cidade de Parnaíba. 

Cândido de Almeida Athayde nasceu em Tutoia, a 19 de setembro de 1904. Médico formado na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1929. Diretor da Santa Casa da Misericórdia em Parnaíba. Prefeito de Parnaíba (1945-1946). Membro da Academia Parnaibana de Letras. Neto paterno de Eusébio Gomes de Athayde (nascido em Barreirinhas, MA, e falecido 1918, em Tutoia) e de Cleonice Neves de Almeida (falecida em 1921, em Tutoia). Neto materno de Inácio Joaquim Gomes de Almeida e de Maria da Graça ...; bisneto paterno de Bernardo Athayde (nascido em Pernambuco (?)) e de Henriqueta Gomes (nascido em Barreirinhas). Bisneto materno de Maria Eugênia de Almeida.

Os Athayde, vindos de Portugal, chegaram aparentemente na Bahia, e posteriormente espalharam-se pelo nordeste. Bernardo Athayde aparentemente nasceu em Pernambuco, e radicou-se posteriormente em Barreirinhas, no Maranhão. Ali casou-se com Henriqueta Gomes. Mais tarde mudou-se com seus 7 filhos para a Tutoia, no Maranhão. Os bisavós maternos de Cândido de Almeida Athayde, chegaram a Tutoia, vindos de Portugal, e fixaram-se na foz do rio Novo. Ali montaram um engenho de açúcar, e passaram a fabricar rapadura e mel, que passaram a exportar para São Luís, e Belém do Pará. Um ano depois o chefe da casa faleceu, assumindo a condução dos trabalhos, a viúva, Maria Eugênia de Almeida, que com seu temperamento decidido conseguiu prosperar com seu trabalho. Segundo uma tradição oral na família, D. Maria Eugênia, quando seus filhos completavam 21 anos, dava-lhes 10 escravos "machos" e 10 escravos "femeas", e mandava-os procurar vida em outro lugar. Assim fundaram os lugares, São João, Santo Antonio, Tamancão, Frecheiras e Frecheiras da Lama, este último, já no Estado do Piauí.

Cândido de Almeida Athayde casou-se, na Parnaíba, com  Altair Rebelo Pires, nascido em Parnaíba, a 22 de setembro de 1911. Tiveram os filhos Carlos Henrique Pires Athayde, Suzana Maria Pires Athayde e Antônio Borges Pires Athayde.

Cândido de Almeida Athayde faleceu, em Parnaíba, aos 93 anos de idade, a 19 de fevereiro de 1998.

Quanto ao pai, Arthur de Almeida Athayde, peço ajuda aos universitários para terminar de compor o seu perfil. Com fé, esperança e amor.

Última informação. Arthur de Almeida Athayde faleceu em 1987.


Texto: Kenard kruel

Foto: Arquivo de Kenard kruel



Comentários