CPI da Covid ouve nesta quarta-feira depoimento do empresário Luciano Hang

 Publicado: 29 Setembro, 2021 - 09h18 | Última modificação: 29 Setembro, 2021 - 09h23, Escrito por: Redação CUT

FOTO: SECOM-SG-PR


Hang é acusado de pertencer ao chamado "gabinete paralelo", grupo de apoiadores de Bolsonaro suspeito de aconselhar o presidente em relação à pandemia com sugestões, por exemplo, do uso do kit covid

 

A CPI da Covid do Senado ouve nesta quarta-feira (29), às 10h, o depoimento do empresário bolsonarista Luciano Hang, acusado de pertencer ao chamado "gabinete paralelo", grupo de apoiadores de Jair Bolsonaro suspeito de aconselhar o presidente em relação à pandemia do novo coronavírus.

Esse grupo fazia sugestões contrárias às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), como isolamento social para conter a disseminação do vírus, e indicava o uso de de medicamentos ineficazes contra a Covid-19, o chamado  "tratamento precoce" com o “kit covid’, composto por medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina.

A convocação de Hang foi aprovada na quarta-feira (22), por requerimento do senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI. No mesmo dia, o nome de Hang foi citado no depoimento de Pedro Benedito Batista Jr., diretor da empresa de planos de saúde Prevent Senior. Foi em um dos hospitais próprios da Prevent, o Sancta Maggiore, em São Paulo, que a mãe do empresário, Regina Hang, de 82 anos, morreu em fevereiro deste ano.

Em vídeo publicado nas redes sociais, Luciano Hang aparece dizendo que a mãe poderia ter sido salva se tivesse feito "tratamento preventivo". Porém, o prontuário de Regina Hang no Sancta Maggiore, obtido pela CPI junto ao hospital, indica que ela tomara, sim, hidroxicloroquina e ivermectina antes da internação. A Prevent Senior vem sendo acusada por médicos de incentivar a prescrição desses medicamentos, na contramão dos principais estudos científicos realizados desde o início da pandemia.

Já internada, ela teria sido submetida a ozonioterapia por via retal, tratamento vedado pelo Conselho Federal de Medicina por falta de comprovação de sua eficácia.

Adulteração de atestado de óbito

Apesar do prontuário indicar que Regina Hang teve Covid-19, a doença não consta do atestado de óbito.

Hang admite que a mãe teve Covid, mas negou que essa tenha sido a causa mortis, alegando que já estava curada do coronavírus.

Segundo o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), Luciano Hang pediu aos médicos que não revelassem que sua mãe fizera o “tratamento precoce”. O objetivo, ainda segundo Renan, seria não desmoralizar publicamente o uso da hidroxicloroquina e da ivermectina.

À CPI, Pedro Batista Jr. negou-se a responder sobre o caso de Regina Hang, invocando o sigilo médico. Porém, falando em tese, o diretor da Prevent Senior admitiu que em alguns casos o hospital Sancta Maggiore retirava a classificação de covid-19 do prontuário de pacientes que deixavam de apresentar sintomas da doença.

“Todos os pacientes com suspeita ou confirmados de Covid (…), quando entravam no hospital, precisavam receber o B34.2, que é o CID [Classificação Internacional de Doenças] de covid, e, após 14 dias — ou 21 dias, para quem estava em UTI —, se esses pacientes já tinham passado dessa data, o CID poderia já ser modificado, porque eles não representavam mais risco para a população do hospital”, alegou Batista, em explicação considerada “inacreditável” pelo relator Renan.

Suspeita-se que o objetivo da Prevent Senior era criar uma subnotificação de óbitos pela doença, favorecendo teses do “gabinete paralelo” de Bolsonaro. Em outro vídeo obtido pela CPI, Pedro Batista Jr. parece fazer a defesa da “imunidade de rebanho”, outra tese contestada, segundo a qual seria melhor deixar o vírus circular livremente até parar de circular por não encontrar mais pessoas para infectar.

A convocação de Hang dividiu opiniões na CPI. Para Renan Calheiros, “a presença desse senhor nesta Comissão Parlamentar de Inquérito é mais do que recomendável”. Jorginho Mello (PL-SC) votou contra a convocação e considerou “revoltante” a CPI “desrespeitar a memória da mãe do empresário” e pôr em dúvida “seu amor de filho”. O senador Marcos Rogério (DEM-RO) considerou “lamentável” a exposição pública das informações do prontuário de Regina Hang, “cobertas pelo sigilo, em proteção à intimidade do paciente”.

Para Jean Paul Prates (PT-RN), por sua vez, Luciano Hang foi “desumano”, pois “não respeitou nem a própria mãe para defender o governo: deixou que a Prevent Senior falsificasse a causa da morte dela, ocultando a covid-19”.

Com informações da Agência Senado

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