Por Paulo Dalla Nora, cofundador do Poder do Voto
É consenso que estamos
vivendo um dos períodos de mais intensa polarização política na história
recente do Brasil e do mundo: movimentos extremos ganham voz e mobilizam
seguidores em diversos países. A política como instrumento de busca e formação
de um ponto de equilíbrio, onde os diversos grupos sociais se sintam
representados e não haja um sentimento de derrota de alguns, parece ter perdido
força.
Assistimos o
desentranhamento de um novo uso para a política: uma ferramenta para impor um
lado através da destruição das ideias do oponente. Deixa-se de ter adversários
e passa-se a ter inimigos.
Essa visão da política
como terreno de confronto parte do pressuposto que é possível uma vitória
total, como se fosse possível "aniquilar" o oponente e implanta
apenas um lado da agenda. A realidade é que não existe força política no Brasil
capaz de tal façanha e na democracia as vitórias são sempre parciais. Ainda bem
que é assim.
Nesse contexto, um dos
pontos de maior debate é o papel das redes sociais, em seus vários formatos, no
engajamento cívico e político dos cidadãos. A primeira questão que se coloca é
a dúvida quanto aos pesos dos aspectos negativos e positivos que a nova
tecnologia impulsiona: em que medida essas novas ferramentas estão criando um
distanciamento e fricção entre os cidadãos e seus representantes e a política,
ao exigir um comportamento "purista" e sem concessões dos mesmos.
A outra hipótese seria a
proximidade que a tecnologia permite emular gerar um fortalecimento do
exercício da cidadania e, gerar dessa forma, uma aproximação entre o cidadão e
as instituições que os representam. Essa aproximação pode permitir a melhor
compreensão da dimensão dos desafios que precisam ser enfrentados e as escolhas
associados a eles.
Os que acreditam na
política como uma ferramenta de formação de um "terreno do
entendimento" têm a responsabilidade e obrigação de trabalhar para que as
tecnologias sejam um instrumento que também aproxime e engaje o cidadão com os
seus representantes, que ajude no entendimento de que compromissos e concessões
precisam ser firmados para que o processo político avance objetivamente para
impactar nossas vidas.
Não significa que
iniciativas que buscam influenciar e legitimamente pressionar para atender a
sua agenda não sejam importantes, mas precisamos cuidar para que o espaço da
tecnologia não seja preenchido apenas com essa narrativa de confrontamento, que
de certa forma impede o exercício da busca dos consensos necessários ao mínimo
funcionamento das instituições. Se cairmos na tentação do uso da tecnologia
apenas como ferramenta de "marcação" de posições estaremos matando
esse espaço da construção do consenso e vamos regredir para a era das pelejas
tribais só que na velocidade digital.
*Paulo Dalla Nora é cofundador do Poder do Voto, aplicativo que
tem como objetivo proporcionar ao eleitor brasileiro maior clareza da
representação política e auxiliar na construção do debate político saudável e
do acompanhamento voto a voto dos parlamentares.
Comentários
Postar um comentário