PERSONALIDADES DE TUTÓIA: Severino Santos





Severino Santos - Conheci Severino Santos como gráfico. Eu, jornalista, nas redações, e ele nas máquinas. Teresina era pequena para nós dois. Não por mim, quieto no meu canto. Ele, porém, sempre quis abarcar o mundo com as suas ideias de homem radical de esquerda. Colocou na cabeça que deveria renovar o movimento sindical piauiense. Quase todos os sindicatos estavam presididos pelos chamados pelegos. Alguns, com mais de 40 anos de mando e desmando. Os gráficos, por exemplo, eram cativos do Lima, patrão em pele de trabalhador.


No Sindicato dos Jornalistas estava o Luiz Bello, major do Exército, carioca bonachão, o que é uma redundância. 35 patrões e 5 jornalistas. Alberoni Lemos Filho, de tradicional família de papel, tinta e graxa, comunista de carteirinha, arrebanhou uns gatos pingados e fomos ao Sindicato nos regularizar. Luiz Bello fez feio. Chamou a Polícia Federal para nos prender. Por exercício ilegal da profissão. Falsidade ideológica. Fomos presos. Soltos. Sindicalizados. Roberto John tornou-se presidente. Alberoni Lemos Filho, secretário geral, como próprio do PC, e eu segundo secretário. Eleição, final de 1984. Posse, começo de 1985. As peças do dominó começaram a cair. Fomos eliminando penego por pelego. Teixeira, comerciários, Lima, gráficos,  João Batista, construção…


Final de mandato do Roberto John era certa a eleição do Paulo de Tarso Moraes. Caiu da moto, numa madrugada, em frente ou perto do Parque da Cidade. Estava indo para casa, no Mocambinho, depois de uma noitada no Bar Nós & Elis. Quebrou o pescoço. Lancei o meu nome. Severino Santos não gostou. Passou-se, em oposição, para dentro do Sindicato comandando os jornalistas, ele que comandava os gráficos. Um dia antes da eleição, eu descia a escada e ele subia. Eu gordo, ele magro. A escada, como o mundo, era pequena para nós dois. Trisquei nele. Foi ao chão e perdeu a eleição no dia seguinte.


Anos depois, num dos botecos de Timon - MA, dou de ouvido com ele tocando e cantando “Mama África”. Nunca esqueci da noite e, principalmente, da música, até porque, segundo o comandante da Guarda Municipal de Tutóia, Romário Félix, ele só sabe tocar e cantar, esta. Disco furado.


Como o Piauí não soube me amar, dei de me auto exilar em Tutoia, onde Deus faz a morada. E, sem que eu soubesse, o Severino Santos também. Ele morava na Praia da Barra. Quando soube que fiz casa na Barra dos Félix, abandonou tudo, menos a professora Telma Teixeira, e veio construir moradia perto de mim. Há dez anos. De lá para cá, nós nos tornamos grandes amigos. Ele, mais do que eu, porque eu não gosto de Nêgo, só de  Nêga.


Severino Santos é um dos caras mais generosos, prestativos que eu conheço. Sem dia e hora para ajudar amigos. Se tivesse inimigos, ajudaria da mesma maneira. Verdadeiro Perdulário da bondade.


Entre outros trampos, deu de fazer a “Feirinha Meus Teréns”, aos sábados, das 17 às 22 horas, na Praça Getúlio Vargas, centro de Tutoia. Sol. Chuva. Suor e Sal. Lá está ele  firme e forte, com a professora Telma Teixeira, sua esposa, a colega Joanice e outros abnegados. Nêgo de cabeça dura. Meteu uma coisa no quengo, ninguém tira. E assim vai vencendo os percalços que se lhes apresenta, sempre com um sorriso suave no rosto. Estamos juntos, meu Neguim. Com fé, esperança e amor.


Texto e Foto: Kenard Kruel


Ele adverbiou o substantivo “Teresina” numa música autoral que leva o nome da capital do Piauí, como nesse trechinho aqui "Tu acordas para a vida, teresinamente feliz!"


Adotou Tutóia como refúgio. É professor da escola estadual “Liceu Tutoiense”. Na terrinha dos Tremembés e já compôs algumas músicas em sua homenagem. Uma delas para o “Boi Pelado”, considerado o maior bumba-boi do mundo, de criação do saudoso Ananias Santos. Suas composições sobre Tutóia "Boi Pelado" e "Proa à vista (na proa do navio velho)".


Severino morou muitos anos na capital, mas sua terra natal é Floriano-PI.


Adaptação final: Elivaldo Ramos




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