CIDADE DE PAULINO NEVES: OS PRIMEIROS HABITANTES DO MUNICÍPIO


Foto da Praça Zeca Penha, extraída do vídeo “DESCOBRINDO PAULINO NEVES”, trabalho dos alunos da Escola João Crisóstomo, 2013



"Palavra de Anízio Gomes de Araújo (1908 ─ 2006)

               

                         Os primeiros habitantes de Paulino Neves eram de famílias muito ricas, vindos de muito longe, trazendo consigo mais de cinqüenta escravos, que habitavam o Lago do Cereja de Saruê onde, entre eles, estavam os doutores Artur Cereja e Júlio Galas (um dos homens que cavou o Grão-Pará).


                  Antônio Gomes Marques, pai de Anízio, contou que mais ou menos dois anos depois da chegada dos primeiros habitantes na cidade de Paulino Neves, iniciou-se a 1ª Guerra do Paraguai, entre os anos de 1835 e 1840; porém, não se tem ao certo o ano exato da fundação da cidade, podendo ter sido em 1833 ou 1834.


                    E a Guerra chegou a atingir a cidade e, na época, só havia essa casa no Lago do Cereja, a qual já era coberta de telhas com parede de barro.


                   Lembrando que, na época da guerra, as duas famílias já tinham ido a passeio à capital de São Luís, deixando na casa apenas os escravos onde a maioria foi morta, restando, no máximo, doze escravos, que fugiram e se esconderam no rio, no mar ou nos matagais e, com a chegada das novas famílias, que foram até o Saruê e viram o sangue dos escravos e muitas marcas de bala nas paredes, este fato realmente foi comprovado. Quarenta e oito anos depois, o próprio Anízio viu, com seus próprios olhos e, nos dias atuais, restam apenas o lugar coberto de matos, alguns cacos de telhas e pedaços de barro.

                     Chegada dos cearenses: fugiam da seca do Ceará, mais ou menos no ano de 1915, onde um senhor, por nome Sebastião Zumba, foi comprar um barco em Fortaleza e encontrou Janjão, um grande pescador e, em seguida, chegaram em Paulino Neves, muitos cearenses.

                Em relação à pesca, tem-se fartura de garoupa, serra, cavala, tainha, camarão e marisco de quase todos os tipos. Houve uma época de uma fartura tão grande de garoupa a qual era exportada para Fortaleza por Mouseisão, Sebastião Zumba e João Freire.

                         As dunas são um paraíso, de uma beleza fantástica, mas também foram grandes devastadoras da imensa quantidade de carnaúba que tínhamos. Infelizmente, o homem, que ajuda na devastação da natureza, continua acabando com as poucas carnaúbas que restam.


                   José Nazareno relata sobre a maior duna de Paulino Neves, que tem 35 metros acima do nível do mar, e é conhecida e batizada pelos mais antigos como a lagoa do morro das mendanhas, local onde todos queriam correr de casco (pedaço de madeira ou plástico, um pouco oval que desliza sobre a areia. É o skate dos modernos).

                     Em torno de 1913, surgiu a primeira bola feita com a palha da espiga do milho e depois enrolava em um pano juntamente com os cabelos do milho. O jogo era com as mãos. Neste período, tinham jogadores muito bons já considerados feras. Logo depois, surgiu a bola de pneu.

                        Ainda nesta época, já existia a dança do bumba-meu-boi: pegava-se uma cabeça de boi no campo que estivesse com o chifre e fazia o corpo com um couro comprado em São Luís. (DESCREVER A DANÇA??)

                    O balão era uma das brincadeiras mais divertidas. Compravam-se duas folhas de papel de seda, emendava uma na outra e fazia um corte em cima no estilo dos balões artificiais e, logo depois, tocava fogo em papéis ao redor e a fumaça ajudava a levantar o balão para o céu. O próprio Anízio fazia o balão. Soltavam-se balões nas festas, que eram animadas por cantores de Parnaíba, Poço Dantas, Tutóia Velha (Orquestra), e também perto das igrejas.

                       Uma curiosidade que talvez poucas pessoas saibam: Anízio foi a primeira pessoa a viajar num carro em Parnaíba, no ano de 1930. Em Paulino Neves, as primeiras atividades de sobrevivência eram a pecuária, a pesca e a agricultura.

               Havia uma onça bem próxima da cidade no morro do boi, tinham muitas raposas, cobras cascavéis (matava-se três num dia), cobra coral, jararaca, principalmente na época do caju. Hoje, é difícil se ver uma cobra venenosa.

                    A fazenda modelo iniciou-se com o doutor Maurício Rodrigues, vindo de São Luís, que investiu nesta fazenda com muitas ovelhas, gados, cabras etc., sendo inaugurada pelo governador da época de São Luís, Newton Belo. Houve uma festa muito grande com danças, bebidas, carnes. Vieram pessoas de São Luís especializadas em criação de animais. E um problema foi o gado vindo de São Luís, que estava “impachado” pela doença “fitosa” e infectou o gado que havia na cidade, onde todos eram postados no garajau, um dos melhores pastos para criar; então, ficaram prejudicados somente os que já eram da cidade, os mais fracos, ocasionando a morte deles.

                     Antigamente, quando não existiam relógios nem bússolas na cidade, as pessoas se baseavam na hora da seguinte forma: cortava-se um pau que medisse um palmo de uma polegada, e media-se a distância onde ia ser enterrado este pau, mais ou menos uma chave e, em seguida, enterrava-o na areia e com a sombra do sol media-se a hora com a mão. Isso era feito até às 18h. Este método era muito usado pelos vaqueiros.

                     Em relação à educação tradicional, o primeiro professor da cidade foi Chico Mexe que ministrava aula particular por dez tostões (dinheiro da época). Em seguida, foi a Srª Mariquinha Serra, que usava um metro (cambirote) para bater na cabeça dos alunos. Por vezes, alguns alunos mal-comportados saíam com a cabeça machucada ou com um grande galo na cabeça. A Srª Mariquinha era uma professora muito bonita, e também muito rígida. Temia-se mais a ela do que aos próprios pais.

                        O material escolar usado pelos alunos constava de um simples caderno, uma pena de galinha com tinta (tinteiro) e um lápis.

                     Chico Mexe fundou o primeiro colégio próximo às margens do Rio Novo, em frente à casa de Felipe Ramos. Este era feito de taipa (técnica construtiva à base de argila [barro] e cascalho empregada com o objetivo de erguer uma parede), sem portas. O piso era aterrado de barro do próprio rio. Na época, era somente um ano de estudo e o aluno era obrigado a ler e a escrever neste pouco tempo.

                       Interessante dizer que as meninas tinham de sair da escola primeiro, ao término das aulas, pois, quando os meninos saíam antes, estes ficavam fazendo brincadeiras de mau gosto com as meninas".


Texto integral do Livro “Rio Novo dos Lençóis”

Fonte: Farias, Valquía Araújo. Rio Novo dos Lençóis. Ed. Gramma, Rio de Janeiro, 2008.


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