Uma notícia no mínimo curiosa foi postada recentemente no blogFlávio Aires, de Carolina-MA, dando conta que no dia 6 de setembro o aposentado Adolfo da Silva Aires, 84 anos, morador da Rua Imperatriz naquela cidade, teria dado cabo à sua própria vida, desgostoso por não ter conseguido receber uma indenização do Consórcio Estreito, o CESTE, já que era um dos impactados pelo lago da Hidrelétrica.
A notícia que só agora vem à público, pelo menos aqui em Imperatriz, através das redes sociais, é mais um capítulo triste envolvendo o grande empreendimento tão elogiado e "cantando em prosa e verso" como uma das panaceias para o desenvolvimento do país, mas que infelizmente não tem trazido paz social.
Veja na íntegra o texto, sob a responsabilidade do repórter Bezerra Filho:
IMPACTADO DO CESTE SE MATA NA RUA IMPERATRIZ
Por volta das cinco da manhã, (6), setembro, o idoso de 84 anos, Adolfo da Silva Aires, perde a esperança de ser indenizado pelo CESTE, e se mata enforcado dentro da sua casa na rua Imperatriz aqui em Carolina, já notório palco de luta pelas indenizações em decorrência das constantes rachaduras apresentadas nas casas e infiltrações nos quintais que apavoram os moradores impactados da famigerada Represa do Estreito.
“Perdi o gosto de morar. Só tenho pena desse povo que vai ficar” – dizia o suicida ultimamente. Deixa um filho de 13 anos com a esposa Diana. Do primeiro casamento fica o Raimundo, aquele que trazia o pão cedo, e encontra o pai morto encostado na porta da casa humilde objeto dessa tragédia.
Poliana, 23 anos, filha adotiva que escreveu a carta, depois de longa insistência , mas nunca imaginou que se tratava de um suicídio anunciado. O pai chegou a chorar para que ela escrevesse “essa despedida dos vizinhos”- clamava ele.
No dia anterior, trabalhou até tarde na parede da casa do lado externo. Fechou todas as rachaduras provenientes das infiltrações das aguas do lago, com massa forte, e ainda se desculpou com a esposa – “é só isso que posso fazer”.
Quando o CESTE saiu na calada da noite, deixando o escritório geral fechado no dia seguinte, ele entendeu que havia sido enganado, eram promessas falsas a vinda dos técnicos instalando “cacos de vidro” como medidor do alargamento das rachaduras.
Fez o que pode: participou de todas reuniões no Pavilhão da Igreja Católica, acompanhou a Pastoral da Terra de Araguaina nas caminhadas, ouviu políticos mentirosos com suas soluções imediatas, prestigiou os movimentos de Estreito. Fez até um Boletim de Ocorrência na polícia pedindo providencia para a situação da casa que estava para cair. Nada veio. Depois disso uma tristeza profunda tomou conta do velho que tinha boa saúde. Perdeu o interesse por tudo, só falava nesse golpe do CESTE.
Às 16:30 da tarde desse dia 06, de setembro, vizinhos , alguns amigos, acompanham a saída do caixão do “Seu” ADOLFO pela mesma porta simples que fora encontrado morto. Ele matou a dor que estava dentro dele chamada injustiça: muito difícil, de se carregar. Situação devastadora que gera pânico, ansiedade e depressão.
Esse desfecho não estava na nossa previsão, apesar de ser o segundo morador da rua Imperatriz a sofrer tamanha tragédia pelo mesmo motivo. Trágico desfecho que surpreendeu a todos e nos deixou arrasados.
Esse é aquele mau momento de nosso jornalismo, rumo a um silencio sem apelo, só nos resta jogar luzes sobre a trajetória ,desse idoso amigo, distinto, de voz baixa, concentrado, crédulo e sobretudo seguidor do artigo quinto da Constituição Federal que nada colheu. Mas trabalhou até um dia antes de sua morte para sanar os buracos do “asilo inviolável” chamado lar que a JUSTIÇA, vergonhosamente não sanou.
Infelizes criaturas humanas que dizem ter PODER. Bebam o veneno do desserviço e da ingratidão. Pela forma que as pessoas são tratadas já é possível atenção psicossocial na prevenção do suicídio.
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