"Quem são eles? Quem eles pensam que são?"

O texto que segue é um, digamos, (meio) plágio por Tutóia. Quem é leitor assíduo do meu blog saberá porque digo isso.


E, Por que se observa a revolta de muitos tutoienses na rede social? (e muitos destes morando em outros lugares)
Um trecho da música 3ª do Plural da banda Engenheiros do Havaí ilustra um pouco do que lhes apresento nas próximas linhas.
“Eles querem te vender, eles querem te comprar
(...)  Querem te fazer chorar
(...) querem te matar, ...eles querem te sedar
(...) Vender... Comprar... Vedar os olhos
querem te deixar com sede
não querem nos deixar pensar
quem são eles?
quem eles pensam que são?”
Outro dia conversei com amigos que me diziam que inúmeros jovens tutoienses estão indo com mala e cuia embora para morar e ou trabalhar em outras cidades. Ou, simplesmente, porque muitos deles já não estão mais a gostar de ficar por aqui. E por que não querem ficar? Por falta de oportunidade. Nos últimos cinco anos, centenas de filhos desta terra foram atrás de oportunidades para eles e seus familiares. Muitos estão indo embora porque não acreditam mais prosperar com as poucas oportunidades ou que o governo possa criá-las. Não são só os que vão atrás de emprego que estão indo embora não. Noutra conversa com um empresário este dizia que deve se mudar de Tutóia. Ele não se sente seguro. Não acredita no governo. Nem em mudança.
Tutóia nunca esteve num patamar de desenvolvimento que empolgasse ninguém. Mas, já houveram pequenas indústrias e empregos. É bem verdade que uma ou outra coisa está melhor, como o acesso rodoviário e a comunicação, se compararmos com o passado. No geral, sempre vivemos com pobreza, corrupção, etc. Entretanto, antes não se vivia assombrado com a insegurança. O que aconteceu?
O “que mudou é a sensação de que batemos no teto de todas as possibilidades; de que, para alcançarmos voos mais altos, precisamos de mudanças importantes: de leis que regulem os precários serviços que temos, de valores, de ética.” E de que não há disposição no município para fazer essas mudanças. “Esse governo está perdendo a força política, e não tem ideias certas, nem a reputação necessária para imprimar as mudanças necessárias que precisamos”. O legislativo vem de um descrédito sem tamanho. E as lideranças que poderiam inspirar confiança do meio da sociedade já não existem mais e o que há é um ou outro grupo isolado a defender um interesse particular procurando um jeito de mordiscar um pedação do que está no baú da Viúva.  Algumas das lideranças populares que vão aparecendo acabam por desestimular-se, outros vão pro bolso do governo. Estamos à deriva. “Todo mundo sabe que podemos mais, ninguém em sã consciência aguenta mais a situação atual, mas não parece haver vivalma que possa nos conduzir deste atoleiro ao eldorado”.
No comando do município já passamos de médicos e fazendeiros a caçambeiro aos solavancos e não conseguimos visualizar melhoras.
“Sim, é fácil culpar os políticos, os professores. Mas a diferença é que nós elegemos os políticos que estão aí e muitas vezes somos os professores. E seria fácil dizer que a culpa é de um ou de outrem”. Precisamos reconhecer: o problema somos nós, tutoienses. Todos reclamam dos políticos, das injustiças, da corrupção, mas são os mesmos que venderam o voto ou que querem uma benesse individual. E não são somente os analfabetos, os “do interior”. E, enquanto isso, os mais instruídos, os que pensam, os que denunciam, os que apontam os erros são taxados de perseguidores, de incompetentes, de invejosos, de loucos. Estamos vivendo na modernidade, no país da liberdade de expressão. Para tanto, precisamos ser livres. Precisamos respeitar e ser respeitado. Muitos daqueles que percebem que a nossa educação vai mal, que o município não anda, colocam os filhos em boas escolas e pagam caro, ou, vão embora, mudam os filhos daqui. O que nos faz compreender que não acreditam mais na nossa Tutóia.

Eu não sei qual será o impacto desse desânimo, até porque não sei que tamanho ele tem. Mas será, sem dúvida, negativo. Não se faz um município forte sem gente que pense, sem responsabilidades, sem geradores de emprego, sem uma gestão ajuizada. “Uma liderança conduz o município, cria sonhos que mobilizam a população e definem as instituições que permitirão sua consecução”. Muita gente, digamos, da elite de nosso município e não somente a elite financeira, mas a elite intelectual teria condições de viver em outro lugar, mas preferiram ficar aqui, por esperança. Hoje já não se acredita mais. Se todos os nossos melhores cérebros e empresários forem embora, não haverá dias melhores em Tutóia. Os que no poder aí estão precisam pensar no conjunto da sociedade, nos seus filhos e no futuro desse município. Não matem os sonhos das pessoas. Se há muitas reclamações é porque algo está errado. E se está errado é preciso consertar. Olhem o exemplo do Brasil. 

Inspirado num texto do Gustavo Ioschpe publicado na Revista Veja.

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